Uma comunidade que desaprendeu de se organizar espontaneamente fica à mercê de tudo. Ocorre de imediato a tese de Goldhagen sobre a manipulação de sentimentos e percepções num povo germânico fragilizado e paranóico, disposto ao colapso na barbárie, mas tantas outras situações ocorrem que temos o embaraço da escolha.
Na maior parte das vezes chega-se a perceber a vulnerabilidade e o risco que acarreta – mas não chegam a tempo os incentivos à coordenação de atitudes. Sentiram-no, decerto, alguns egípcios coptas na Alexandria helenística; tê-lo-ão sentido os Hititas nas suas lutas fratricidas; tê-lo-á sentido o último a abater uma árvore, a última árvore, para fazer uma fogueira em Rapa Nui.
Nenhum sentiu decerto o incentivo a vencer a esmagadora, a torrencial, impressão de inevitabilidade que mais não era, afinal, do que um catastrófico colapso de descoordenação – cada um à espera dos outros, cada um vitimizando os outros (e vitimando-se a si próprio) com essa atitude expectante.
Vejo tantos sinais de que é isso mesmo que está a acontecer que me lembro, com crescente frequência, da advertência de Shelley:
I met a traveller from an antique land
Who said: Two vast and trunkless legs of stone
Stand in the desert. Near them, on the sand,
Half sunk, a shattered visage lies, whose frown,
And wrinkled lip, and sneer of cold command,
Tell that its sculptor well those passions read
Which yet survive, stamped on these lifeless things,
The hand that mocked them and the heart that fed:
And on the pedestal these words appear:
"My name is Ozymandias, king of kings:
Look on my works, ye Mighty, and despair!"
Nothing beside remains. Round the decay
Of that colossal wreck, boundless and bare
The lone and level sands stretch far away.
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