No meio de milhões de solicitações avulsas e de planos pessoais com cadências assíncronas imponho-me pequenos oásis de meditação com os quais vou pontuando o fôlego. Hoje lembrei-me de um professor "roqueiro", um dos intelectuais mais completos e respeitados do Brasil, e da forma como discretamente ele acarinha o seu modesto talento musical para afirmar a si mesmo, acredito, a variedade potencial de que é composta a sua própria imaginação.
A vida não deve encurralar-nos, tem o hábito de enfatizar o filósofo-roqueiro; e de facto somos isto que os outros pensam de nós, não devemos desapontá-los, mas somos também aquilo de que os outros não suspeitam, e é dessas intersecções entre imagem e entranhas que se faz a intimidade, a autenticidade, a singularidade a que correspondemos.
Às vezes tenho pena daqueles que, chegados à minha idade, penosamente arrastam os seus papéis e as certezas que os desempenhos engendram. A vida precisa da pulsação de contrapontos se ela deve destilar um pouco do seu mistério e se ela deve preservar um pouco do seu desafio. Uma pausa, a pensar noutra pausa, e um pouco de náusea por aquilo que somos obrigados a fazer até que o tempo se esgote, devorando tudo, as resistências, as singularidades, a ironia, a capacidade de pensarmos, até de desejarmos, caminhos diferentes.

1 comentário:

  1. É bom, Epicurista, sabê-lo tão próximo da sua natureza.

    Que os milhões de afazeres nunca ocultem os mistérios da vida e que a sua natureza sempre busque a essência que se esconde por detrás dos ditames e dos prestígios.

    ResponderEliminar