Parece que nenhum Natal consegue ser mais triste do que o último, e no entanto todos os anos somos surpreendidos.
Talvez devêssemos ter abolido o festejo de Natal, para não termos aquela pausa ruidosa que nos força a pensarmos e compararmos – sem podermos verdadeiramente fugir, como podemos naquele inebriamento alarve de todos os outros festejos anuais.
A comparação é devastadora – não tanto no que respeita ao Natal, ou à Consoada, mas no que respeita àquilo que eu era e sentia, àquilo que eu amava e àquilo em que acreditava.
O meu Natal adulto foi sempre permeado de uma vaga repulsa por aquela eclosão de boas vontades estereotipadas em cartões coloridos que pareciam destronar a indiferença e a malícia pelo espaço de uns dias.
Agora é mesmo a interrupção do bem que sinto todos os outros dias do ano pelo bem que finjo, num instante de permissão de excessos com coisas que até deixei de comer e de beber porque agora me desgostam; é a troca de uma autenticidade focada e lutadora pela indolência míope e auto-indulgente de pessoas que se obstinam no fingimento de que tanto do que amavam se desmoronou e que o melhor é não lembrá-lo, e menos avisado ainda é reiterar, no silêncio doloroso dos ausentes, rituais em que eles sempre tinham participado, rituais que eram eles, e que agora são rituais de tristeza.
A tristeza agora escorre das suas palavras e o Natal, pelo que leio, não é, para si, tempo de alentos e surpresas.
ResponderEliminarSeja como for: as suas palavras são sempre muito belas e escrevê-las é, seguramente, um conforto para si. Para quem as lê também.
Desejo-lhe, apesar de tudo, um bom Natal.