O sistema francês de "maisons de tolérance" correspondia à velha sabedoria augustiniana de que não é possível erradicar a prostituição.
Aquando da reforma haussmanniana, todavia, pensou-se que se poderia avançar para o abolicionismo – seja por causa da "gentrification" do centro de Paris, seja por causa do advento de tendências puritanas e feministas. Em vão: as "femmes galantes" passaram de "filles soumises" a "femmes folles" dos "tableaux vivants" das "maisons de débauche", e essas mesmas profissionais viram-se expostas à "concurrence déloyale" da "manie de l'acte gratuit" (palavras de Georges Brassens), ou a formas de contratação e pagamento velados que campearão por toda a "Belle Époque", e ao menos até à "revolução des moeurs" nos anos 60 do séc. XX: a "demimondaine", a "cocotte", a "grisette", a "femme de café", a "grande horizontale", cada uma à sua maneira demonstravam, no trottoir e no boudoir, a intuição de Montesquieu, de que não há lei que sobreviva à desarmonia com o "espírito" de um povo (no caso, um povo mobilizado para a militância de uma sensualidade "grivoise" e ímpia).
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