Desprende-se do conjunto da Place des Vosges um elemento de intimidade, de escala humana, misturados com uma tonalidade arcaica e bucólica que tudo recobre. Não admira, pois ela espelha uma limitação tecnológica e uma ideologia ultrapassada, uma vontade de agregação urbana que está já ausente na Place Vendôme, com o seu renovado esplendor ostentatório e a sua inspiração numa romanitas muito mais desumanizadora (encontrando-se híbridos nas plazas mayores espanholas, oscilando entre uma certa rusticidade flamejante e a opulência intimidativa do plateresco).
Na Place des Vosges há ainda algo de claustro de Hospital, quando o céu se adensa de nuvens lúgubres e pensamos no "menu peuple" morrendo de fome encostado às arcadas, ainda nos invernos de 1693/94 e 1709/10, ao som do tilintar da baixela nos andares superiores, e dos pendões e estandartes anunciando a Pax Borbonica nos últimos instantes que precedem o dilúvio da secularização e do materialismo nivelador.
Por fim é ainda, na sua versão de árvores mais tímidas, um cenário de paradas e fanfarra e coreografia – precisamente porque consegue, na era pré-guilhotina, oferecer um cenário relativamente neutro à orquestração das massas, coisa que as novas praças dispensam, pois fornecem elas próprias, em pedra e proporção e perspectiva, todo o espectáculo da majestade.
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