O que é ser normal?

Vivemos num mundo que não nos concede muito tempo para sairmos do casulo do hábito, e dentro dele tendemos a padronizar, por indução, a sedimentação da nossa experiência imediata – alinhando as nossas percepções pelo que é mais próximo ou pelo que é mais recorrente, em ambos os casos por aquilo que deixa uma impressão mais forte na nossa visão externa.
É por isso que criámos uma coisa que é a "normalidade", e é por isso também que nos desafia e nos causa tanta ansiedade todo o desvio dessa "normalidade", uma espécie de raciocínio maioritário que denega à novidade e à excepção o acesso ao núcleo que compõe a "ordem das coisas".
Somos intolerantes por preguiça, tal como as crianças o são por ignorância. Não nos representamos empaticamente fora da harmonia com que impomos o sentido à nossa vida.
Tal como as nações cultivam a inimizade para se manterem coesas, muita da nossa auto-estima – por muito que custe reconhecê-lo – se alimenta da indiferença, da repugnância e da crueldade com que lidamos com os "anormais".

Sem comentários:

Enviar um comentário