O Imposto Herodes


Não é fácil ultrapassar o feito infanticida do grande Herodes, Tetrarca da Galileia e Rei da Judeia – a tentar matar à nascença toda uma geração de potenciais "Reis dos Judeus" profetizados. A matança gela ainda o coração dos fiéis e de todos os homens de bem.
Em Moby-Dick os vigias do baleeiro Pequod são surpreendidos – aterrorizados será a expressão – por um grito "plaintively wild and unearthy – like half-articulated wailings of the ghosts of all Herod's murdered Innocents" (muito apropriadamente topam pouco depois o Rachel, cujo capitão também chora a morte do filho).
Tudo isso foi recentemente ultrapassado entre nós, num gesto que "out-herods Herod", para usarmos a expressão de Hamlet (3.2.12-13): quando a Lei de Imposto passou a exigir, para lá da indicação do número de descendentes, o respectivo número de contribuinte, de um ano para o outro desapareceram, das declarações de imposto portuguesas, mais de 11 mil crianças.
Sim, mais de 11 mil crianças. Bárbaro, gela o sangue pensar o que aconteceu a esses inocentes. Em Portugal, em pleno Século XXI.

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