A maldição da beleza



Diz-se frequentemente que Rose Bertin, a principal modista de Marie-Antoinette, foi tanto ou mais decisiva para o ambiente revolucionário do que os escritos dos philosophes.
É que ela contribuiu para a ostentação do luxo e do adorno, e para um embelezamento preternatural da monarca e da corte – quando o que se reclamava era um abaixamento "demótico" do elemento ornamental da governação, por tanto tempo um entre outros instrumentos para o aprisionamento da aristocracia no pesado ritual de emulação, em Versailles, mas agora um embaraço na fervilhação pré-romântica da demagogia "nacional".
O négligé à la patriote e o déshabillé à la démocrate cultivados do lado do barrete frígio são principalmente, se não exclusivamente, manifestos anti-Bertin, reacções à ditadura desse ministério da moda que é a única instituição que atravessou incólume revoluções, monarquias, impérios e repúblicas.
As modas de Rose Bertin e a sua imortalização em Vigée-Lebrun contribuíram além disso para um mito que ainda hoje perdura, a de que os problemas financeiros do Ancien Régime tinham por primeira causa o luxo e a extravagância da Corte.
Uma ideia falsa - mas irresistível, de tão belo e atraente e invejável que o alvo se tinha tornado.

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