Do proxenetismo patriótico

Quando tudo corria bem eram europeístas. Agora que tudo corre mal são patriotas.
Querem usar a nação como aquela prostituta que era oferecida aos prussianos para lhes aplacar o ímpeto, e impacientam-se e indignam-se que a nação não se ofereça mais pronta e alegremente em holocausto, verberando-lhe a resistência e o tardio pudor.
Se ela acabar vergada e possuída, e se os prussianos ficarem satisfeitos com isso, os biltres bem-pensantes que ocuparam o poleiro da política portuguesa voltarão a ser europeístas e ignorarão arrogantemente a expiação e a vítima, recobrindo com o seu ufano servilismo cortesão a memória embaraçada do colaboracionismo.
No presciente Boule de Suif, Guy de Maupassant estabeleceu o paradigma dessa forma de hipocrisia servil: "leurs chefs [...] prétendaient soutenir seuls la France agonisante sur leurs épaules de fanfarons", e a solução é alijar, da carroça em movimento, o peso-morto da prostituta conveniente.
Então como agora.

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