Fui e voltei de Sevilha num mesmo dia. Percorri-a a uma cadência quase onírica, dado o cansaço, e não surpreendi sequer na sombra dos meus passos a sombra do burlador e do convidado de pedra, aquele eterno ícone da perdição humana que emprestou a Sevilha a alma danada.
Lembrei-me, sim, de memórias do meu pai que esteve em Sevilha no rescaldo da Guerra Civil e a viu repleta de señoritos burgueses bem trajados e devorando cascas de melão nos caixotes de lixo – uma outra danação mais sórdida ainda do que a de Don Juan Tenório.
Lembrei-me ainda da minha infância, dos tempos em que Sevilha era para mim, nessas evocações carismáticas, um pouco o fim do mundo, um local de sol tórrido, de cante jondo e de vielas empoadas de colorau.
Lembrei-me por fim das palavras de um enamorado do sortilégio andaluz, Jorge Luis Borges: "Antes las distancias eran mayores porque el espacio se mide por el tiempo". Regressarei a Sevilha, porque o tempo acelera.
A qualidade,o estilo de escrita, a estética e a inspiração proustiana não enganam...gosto que tenha regressado.
ResponderEliminar...porque se despede tanto?...
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