Efemérides do citoyen

Não sei o que vai comemorar-se neste ano da graça de 2012, ou até se o pretexto da austeridade não irá esgotar também os recursos da memória.
Por mim, lá para Abril vou celebrar os 400 anos da Place des Vosges (antiga Place Royale, depois rebaptizada em honra da mansidão tributária da "ligne bleue"). É coisa ao mesmo tempo sóbria e sofisticada, "sobriamente chique", embora se possa adivinhar que os demiurgos não conviveriam bem com a multiculturalidade (lato sensu) que veio consagrar a região nestes tempos pós-modernos.
Claro que mais lá para a frente poderíamos falar dos 500 anos do tecto da Capela Sistina, ou dos 500 anos da descoberta de Timor; dos 300 anos do nascimento de Jean-Jacques Rousseau, ou dos 200 anos das Cortes de Cádiz, o aríete rousseauniano no direito peninsular.
Mais evocativamente, quem sabe mais apropriadamente, lembraríamos os 200 anos dos dois triunviratos transplatinos (o que hoje se designaria por "troika argentina").
Mais patrioticamente poderíamos ainda falar da última vez que tropas portuguesas invadiram Madrid, em Agosto de 1812 (tínhamos lá estado já em Junho de 1706, com o Marquês das Minas; em ambos os casos a glória durou pouco, mas soube bem).
Por mim, pouco patriota que sou (ou ando), fico-me pela Place des Vosges, embora suspeite que em Abril ela será submersa pelos 100 anos do naufrágio do Titanic (a decadência do Francocentrismo dá nisto...).
Fecho os olhos, em sonhos reabro-os sob as arcadas, e vou percorrê-las mentalmente ao tom trauteado de uma passacaglia. O que são 400 anos?

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