O horror real


Nos Sete contra Tebas a herança maldita de Édipo acaba disputada entre irmãos, o atacante Polinices e o defensor Etéocles. Ésquilo faz a tragédia rematar em fratricídio, e é esse gesto proscrito que dita a proibição do enterro do atacante Polinices.
Sófocles pegará nessa proibição e convertê-la-á no momento mais icónico e debatido de toda a tragédia antiga, o momento da reacção de Antígona àquela proibição.
Hoje lembrei-me disto quando soube, horrorizado, de um fratricídio que vitimara uma velha conhecida – novamente, ao que se sabe, com o móbil preso à maldição de uma herança.
Lê-lo em velhos pergaminhos já faz gelar o sangue. Imaginá-lo ao vivo, com a brutal crueldade com que ocorreu, é esmagador.
Podemos combatê-lo incessantemente, mas o facto é que atravessamos a vida, toda a vida, a um passo somente da tragédia. Há 2500 anos que somos disso advertidos.

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