Nicola & Benito


A clique eurocrata desespera com os resultados das eleições italianas. Se ao menos fossem referendos sempre podiam mandá-los repetir, como de costume, até que os seus apaniguados vencessem. Na falta dessa solução milagrosa, tentam a ingerência com o avacalhamento ideológico, a velha "ruse" dos revolucionários franceses, que inauguraram essa prática de demolição "ad hominem" como tiro de partida para as campanhas de invasão.
Sucede que a Itália é a pátria da liberdade republicana; tem no seu pedigree histórico uma longuíssima tradição de geração de soluções próprias, à margem, e não raro contra, as forças centrípetas que ocasionalmente se avolumam dos dois lados dos Alpes. Há partidários das hegemonias importadas – os provectos Guelfos e Gibelinos –, mas o burguês italiano sabe que na sua abastança, na coesão dos seus comícios e nas fraquezas da vanglória alheia encontra a sua "virtù", a sua afirmação idiossincrática nos meandros da História.
Isso nunca poupou os italianos, numa vívida demonstração do paradoxo da liberdade, às tentações e erros da demagogia, da impiedade, da tirania. Mas mesmo aí nunca a Itália esperou tutelas alheias para explodir pedestais e para lançar-se no tiranicídio com o mesmo entusiasmo e determinação com que na véspera adulara os "condottieri" populistas: os exemplos de Nicola (Cola di Rienzo) ou de Benito (Mussolini) são dos mais eloquentes de sempre.
Ficámos a saber que os Gibelinos do século XXI, aqueles que veneram a Eurocracia, são uma minoria na península italiana. O resto mostrou que execra e despreza esse avatar do Império, honrando a velha tradição do republicanismo florentino e veneziano, tacitista e maquiavélico. Palhaços são os que não percebem essa singularidade e desesperam com isso. Com os outros cognominados palhaços lidará o próprio povo italiano, se um dia do populismo que professam emergir uma deriva tirânica.

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