Ironia histórica e sobressalto no Ashram


Tudo começou porque os defensores da Graça eficiente, que criam na impotência humana para assegurar a salvação, acusaram de Molinismo, ou de neo-Pelagianismo, os que vinham restabelecer a ideia de Graça suficiente, crendo na relevância do livre-arbítrio para promoção das condições de salvação.
Os Jesuítas de Lovaina ripostaram com a acusação de Baianismo (já proscrito pelo Papa Pio V) contra o Bispo Jansen (Jansenius) de Ypres – o que os seguidores deste tomaram por um ataque oblíquo contra a tradição Augustiniana.
Golpes baixos nos Países Baixos, em suma, a pretexto aparente de bizantinices soteriológicas. (1)
Os Jansenistas acabaram proscritos, os Jesuítas acabaram igualmente expulsos e a sua Ordem extinta. Ironia da História, só os Jesuítas renasceram das cinzas; e chegam agora aos píncaros do Vaticano (por onde já tinham andado alguns que, há muitos séculos, se tinham furtado à eleição).
Visto do arco longo da História, soa a uma remota vingança oriunda das Misiones argentinas, onde outrora o jesuitismo soçobrou ingloriamente perante Raisons d'État. E soa a uma nova derrota teológica do Jansenismo na sua imemorial querela anti-jesuítica; aqui no Ashram sentiu-se um frisson.
 
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(1) Leszek Kolakowski (1998), God Owes Us Nothing: A Brief Remark on Pascal’s Religion and on the Spirit of Jansenism, Chicago, University of Chicago Press, 24–30; Lucien Ceyssens (1993), “Que Penser Finalement de l’Histoire du Jansénisme et de l’Antijansénisme?”, Revue d’Histoire Ecclésiastique, 88, 108–130.

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