A mais cruel invenção da política recente centra-se na alegada necessidade de comunicação "com sensibilidade", "com humanidade" (aparece sempre o semi-analfabeto a dizer "com humanismo"), das medidas duras que a política portuguesa de namoro à Europa tornou inevitáveis.
A plebe, subentende-se, tudo engolirá da pílula dourada se as falinhas forem mansas, se ficar tudo em família, se se emborrachar o perú antes de se lhe cortar a cabeça.
Nunca subestimei a estupidez do público, esse sólido alicerce da oligarquia partidocrática; mas acho revoltante, mesmo assim, este maquiavelismo meia-tigela, saloio, que acha que com urbanidade se pode violentar os sonhos colectivos de prosperidade.
Violência por violência, antes a dos facínoras do bando de D. Miguel – o Sedvém, o Cambaças, o Paiva Raposo, o Tarabuzo – que celebravam o seu Carnaval caceteiro nos lombos do alfacinha inocente, em pura ostentação de ódio "corcunda" sem a hipócrita afectação de popularidade bem-intencionada.
Antes essa que a violência cerebral desta momice sorumbática e aveludada que disfarça o varapau sob frases melífluas, a fazer-nos de parvos, a fazer chalaça com a nossa impotência e com a estupidez reinante.
É a tese do povo dócil, do português suave, do cabresto ordeiro – tão verdadeira que revolta o espírito, tão crua que nem consigo nomear os novos "ché-chés" que imperam na saturnália permanente em que se converteu este burgo.
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