A canhoneira regressa


Portugal é um país respeitado, qualquer pessoa com um mínimo de experiência internacional pode testemunhá-lo.
O poder político português é que não é internacionalmente respeitado. 
Nos últimos 300 anos só vejo dois momentos de excepção: o reinado de D. João V, no qual o dinheiro nos comprou o respeito; o consulado de Salazar, no qual a disciplina interna e o caos internacional permitiram que ao menos não houvesse muitas ocasiões internacionais para o desrespeito.
Nos últimos 200 anos o poder político português foi intimidado com a canhoneira britânica, primeiro; depois com a intimidação sobre o Ultramar; depois com o garrote financeiro; passado o interregno voltou a ser cruamente intimidado no sentido da "descolonização" e no da adesão precipitada a uma comunidade económica concebida para a intimidação permanente através de cedências definitivas de soberania. Passado um período de namoro, a matrona europeia a que nos associámos mostra agora a sua verdadeira natureza.
Este último episódio de "bad cop" do FMI, para lá do ridículo burlesco de aparecer articulado com o "good cop" do Governo (uma triangulação hábil mas perversa), demonstra que até no conluio internacional o poder político português já se acomodou à ideia da humilhação.
Não me revejo em nada disto.
Sei que, tirando alguns imbecis que confundem os povos com os seus governos, continuarei como português a ser respeitado em toda a parte. Tenho pena de estarmos muito longe de um daqueles intervalos de respeito pelo poder político português que, como se viu, ocorrem menos de uma vez por século.
Creio que já não será nos próximos decénios que veremos esse respeito regressar.
É pena.
Isso não me exonera, não exonera cada um de nós, de fazer o seu melhor, pessoalmente, civicamente, no meio desse ambiente político irrecuperável, mas é evidente que nos faz perder a todos grandes oportunidades.

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