"[Ó Senhor,] da boca das crianças e dos bébés retiras uma força que confunde os Teus adversários, e reduz ao silêncio os homens vingativos." (Salmos, 8).
As crianças não são apenas o futuro da nossa espécie, são o momento mais autêntico da existência humana: "Naquela ocasião, Jesus tomou a palavra e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos pequeninos.»" (Mateus, 11: 25).
Lembremos que quando no Templo os sábios e os doutores se indignaram que Jesus seja saudado pelas crianças com gritos de «Hossana ao Filho de David», Jesus respondeu "«Sim. Nunca lestes: Da boca dos pequeninos / e das crianças de peito / fizeste sair o louvor perfeito?»" (Mateus, 21: 15-16)
Muitos séculos depois Tennyson imagina Thomas à Becket, acossado pelos poderes seculares, a ouvir sair da multidão o grito "Blessed be the Lord Archbishop, who hath withstood two Kings to their faces for the honour of God", um apelo a que ele responde "Out of the mouths of babes and sucklings, praise! I thank you, sons; when kings but hold by crowns, the crowd that hungers for a crown in Heaven is my true king." (Alfred Lord Tennyson, Becket, 2º acto)
Matar crianças, expô-las à morte violenta, é devastar tudo isto.
É muito mais do que oferecê-las em Holocausto a Moloch; embora também seja isso, e nos seja repugnante, dilacerante, encará-lo.
É sobretudo desbaratar irremediavelmente a aliança com o último e único reduto da nossa autenticidade, da nossa força; é conspurcar a última coisa que deveria permanecer sagrada neste vale de sombras, é queimar o único ponto de apoio de que pode emergir a salvação dos simples mortais que somos, é perder o próprio início do único caminho certo.
Como enfatizava São Paulo, "Quanto a mim, irmãos, não pude falar-vos como a simples homens espirituais, mas como a homens carnais, como a criancinhas em Cristo." (I Coríntios, 3: 1)
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