Quando as pessoas, individual ou colectivamente, se sentem mal mas não conhecem a saída, fazem como as baratas encurraladas – agitam-se.
Vejo muita gente à minha volta, políticos e não políticos, numa agitação crescente. Não sabem o que fazer e por isso aplicam a consabida receita – fazem cada vez mais aquilo que estão habituados a fazer, na esperança de que a demonstração de energia e de tolerância à dor provoque um qualquer efeito redentor (chega um deus ex machina e proclama: certo, esforçaste-te, tens mérito, estás salvo – ou... podes acordar).
Há uns tempos um serviço público estava a perder clientela: clamou-se à reforma, com urgência (nos serviços públicos, e não apenas neles, a ideia de "forma" está desacreditada, pelo que tudo depende da REforma). Ao fim de alguns meses de insano labor apresentou-se a solução, que consistia precisamente... numa reforma dos serviços, assente na multiplicação de tarefas inúteis e de esforços redundantes a recaírem sobre os funcionários. Medidas para reconquistar clientela, nenhuma, porque imperou a evidência de que o espectáculo do cansaço burocrático representaria atractivo bastante. A clientela continuou a fugir, mas o serviço consolou-se com o pensamento de que, feita a reforma, demonstrado o empenho (dir-se-ia mesmo, a disponibilidade para o masoquismo), a culpa passava toda para o lado dessa ingrata clientela.
O país (e nisso não estamos sós no mundo) tornou-se nisto, num tarantismo institucional que saltita pela espiral descendente e até na sua doentia indulgência já se tornou monótono, cinzentão e mais do que sério - angustiado.
Isso explica também, já agora, a nossa atitude colectiva com o Euro. Já pressentimos que arranjámos uma amante cara, caríssima, insustentável. Mas continuamos a inebriar-nos na vaga esperança de que ela, por um qualquer milagre, deixe de ser caríssima e insustentável, e por isso estamos dispostos a acreditar que morreríamos sem ela, agoniando-nos com a ideia de tal "abandono", e à cautela multiplicamo-nos em afãs sacrificiais e em masoquismos – como se quiséssemos multiplicar créditos que nos permitissem, no mínimo, pedir uma indulgência; ou, no máximo, seduzissem a amante para uma simbiose que nos devolvesse, por "mérito", a posição parasitária no trato de mancebia.
E enquanto reafectamos tanta energia e recursos a esse drama institucional vamos deixando de produzir e de ir tentando saídas – as que sempre existiram e continuarão a existir, que sempre estiveram e continuam a estar ao nosso dispor (os novos emigrantes que o digam). E de certa maneira dissolvemos na torrente da neurose aquilo que é (julgo que ainda é) o sal da vida.
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