Na sua "Coase Lecture" de 21/2/1995, intitulada "Public Choice", J. Mark Ramseyer explora por duas vezes o tema de Casablanca.
1) Primeiro para ilustrar o tema da apatia do votante – saber se é possível formar um movimento de opinião politicamente actuante, seja contra a "colorização" desse clássico da 7ª arte, o que poderia alcançar-se através da sua elevação a "National Historical Treasure", seja a favor daquele aggiornamento pigmentoso, naquilo que ele aventa poder chamar-se o "Colorization Liberty Act". [pressente-se que J. Mark Ramseyer é favorável à opção do preto & branco: "Did Ilsa really wear blue the day the Germans marched into Paris? He thinks the visual text ambiguous, and would leave that ambiguity ambiguous."]
2) Uma segunda vez regressamos ao norte de África, desta feita para ilustrar os impasses e paradoxos a que pode chegar uma votação (o velho problema do "cycling" dos votos, detectado pioneiramente por Condorcet).
É claro que já sabemos, do filme, que Richard agiu como um autocrata e impôs a partida de Victor e Ilsa; mas isso, observa judiciosamente J. Mark Ramseyer, contradiz a vocação democrata dos três (era da defesa da Democracia que se tratava, assim no-lo sugere o filme). Suponhamos que havia três opções de embarque: o par Richard / Ilsa, o par Victor / Ilsa, ou Ilsa sózinha, e suponhamos que eram estas as preferências:
As preferências de Ilsa podem parecer bizarras, mas J. Mark Ramseyer apressa-se a esclarecer:
"Quixotic as you may consider this, I think Ilsa wanted to ditch both men and head to Lisbon alone. Think about it. She’s had these wimps whining over her all week. “Enough already,” she says to herself. “I’m high-tailing it out of here alone. You clowns can deal with Major Strasser on your own.” Her second choice is to return with Victor, and her last is to return with Richard. At least once she misses her first choice, virtue will triumph over love."
O politicamente incorrecto instala-se nos respeitáveis claustros da Universidade de Chicago. J. Mark Ramseyer vai ao ponto de imaginar que os 3 putativos democratas se envolvem num impasse de votação que (horresco referens) permite ao Major Strasser chegar a tempo de capturá-los a todos.
Mas não acaba aqui a palestra, e nesse fervor iconoclasta J. Mark Ramseyer aproveita ainda para um valente pontapé na vaca sagrada nº 1 do establishment pós-moderno da academia norte-americana, a Modern Language Association – arrancando com a fina ironia de uma aparente contrição:
"Now as a matter of cinematic hermeneutics, you can plausibly question whether I properly understand the movie. But save those questions for my panel at the next MLA: “Ilsa’s Choice: Gendered Rationality and the Cultural Construction of Mating Patterns in North African Cinematic Texts.”
Sem comentários:
Enviar um comentário