Vem aí o teu aniversário


Andamos saltitando pelos alvores da nossa idade adulta até que uma força nos alcança e nos prende a um destino maior. Porque agora dominamos parte das circunstâncias temos a temeridade de subestimar o arrebatamento que isso nos causa – mas quando chegam os resultados tudo se transforma, tudo se sacode e recentra.
Há um amor maior que se gera, um amor não-negociado, um amor com crueza e sem sedução, uma âncora pesada a prender-nos à realidade, à necessidade e à finitude. Acordamos atomizados numa nova molécula, e surpreendentemente não nos pesa o descentramento desse "eu" hedónico no qual, quando nós próprios éramos crianças, julgávamos poder focar a nossa identidade; essa imagem sedutora que nos fazia desejar sermos adultos depressa.
Repetiram-mo vezes sem conta e eu não me apercebi do que queriam dizer, até que entrou na minha vida, na minha casa, nos meus braços, no meu amor, uma criaturinha que não se fez convidar e inundou com a sua travessura, com as suas birras, com a sua inocência, com as suas observações, com as suas diferenças, todos os recantos do meu horizonte: sim, a vida não volta a ser a mesma; algo em nós morre e algo renasce; não regressamos.
É assim que tem que ser, e por uma vez é a vida que nos controla e força a nossa rendição.

Sem comentários:

Enviar um comentário