Perdida a batalha com os faubourgs – Saint Germain na Rive Gauche, Saint Honoré na Rive Droite –, a Place des Vosges deixou de ser um catalisador do desenvolvimento urbano no século das luzes.
Os cortesãos apinhavam-se em Versailles, mas a autêntica aristocracia financeira, intelectual, profissional, deslocava-se para os faubourgs, abandonando a terra levemente amaldiçoada do Marais (outrora domínio templário, herdado pela Ordem de Malta) a uma lenta decadência na qual começavam a insinuar-se comunidades a requererem mais penumbra do que prosperidade, e a beneficiarem dos instrumentos jurídicos, como o arrendamento, que permitiam um repovoamento sem lesão dos vínculos da propriedade medieval (vem daí a índole judaica de alguns focos culturais da zona).
Alguns oásis de "old money" resistiram estoicamente, palácios regurgitando de remodelação rococó por detrás de fachadas jansenistas, o hedonismo sensual infiltrando os padrões do gosto elitista atrás da aparência de decoro, sem descambar no libertinismo que transitava do Palais-Royal directamente para os faubourgs – uma espécie de hipocrisia que animará a agudeza irónica da subsequente plêiade de salons philosophiques, onde campearão, de forma não menos ambígua, os novos árbitros das elegâncias.
Vale a pena ir à Place des Vosges, flâner e meditar em tudo isto.
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