Aquilo que outros tomam pelo meu pessimismo antropológico parece-me frequentemente ser não mais do que a minha insatisfeita sede de admiração.
Gostava de ter mais gente para admirar, é só isso (ou às vezes é só isso, ou talvez não seja só isso, não sei, que não sou bom juiz de mim mesmo).
É que por vezes, quando a conveniência parece reclamar silêncio, irrompe um rebelde e gera a confusão. Outras vezes, quando o toque da cobardia manda todos recuarem há um que, surdo, avança. E quando a auto-gratificação e a complacência induzem consensos modorrentos, não é impossível que ainda haja quem acorde a tempo de recusá-los.
A todo o momento há, decerto, quem se transcenda e, libertando-se do casulo da indiferença, assuma o risco e se redima. A todo o momento haverá quem cintile por sobre a camuflagem da indiferença.
O mundo está cheio de gente admirável, certamente, apenas tenho o azar de não conhecer muita dessa gente. Não me comparo, limito-me a admirar esses poucos e a consolar-me com a edificação que propiciam. Tento imitar, e nessa imitação admito que outros vejam no que faço ou digo pretexto para admiração. Tento religar esses reflexos e refracções com a própria experiência de estar vivo – como se a vida reclamasse de mim momentos de contemplação alegre da virtude que outros transportam, para não soçobrar no mais extremo desespero com o espectáculo da natureza humana.
Talvez, no fundo, tudo não passe de uma ilusão de perspectiva: talvez admire umas quantas pessoas que são genuínas, independentes e luminosas tanto pelas características pessoais que lhes reconheço como pelo facto impessoal de serem raras.
Seja: isso não diminui o facto de me dar uma grande alegria qualquer ocasião em que descubro mais uma; nunca são de mais.
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