"Alcançamos uma consciência trágica da responsabilidade quando os planos humano e divino são já suficientemente distintos para se oporem, mas continuam, não obstante, a revelar-se inseparáveis. O sentido trágico da responsabilidade surge quando a acção humana se torna objecto de reflexão, de debate, mas não adquiriu ainda um estatuto de autonomia que lhe permita ter-se por auto-suficiente. O domínio exclusivo da tragédia situa-se, portanto, numa zona de fronteira em que as acções humanas se começam a articular com a potência divina, sendo que é nessa zona que elas revelam o seu verdadeiro alcance, um alcance que escapa aos próprios agentes, os quais, no mesmo momento em que assumem a sua responsabilidade, imperceptivelmente ingressam numa ordem intermédia entre o humano e o divino, uma ordem cujas determinações ultrapassam o seu discernimento"
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Jean-Pierre Vernant & Pierre Vidal-Naquet, Mythe et Tragédie en Grèce Ancienne (1972-1986)
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