Em 1934 o extermínio soviético dos kulaks, iniciado em 1929, atingia o seu auge e o seu fim. O genocídio ucraniano, o Holodomor, acabara de consumar-se. Aleksandr Solzhenitsyn dava os seus primeiros passos literários, sentindo próxima essa "fé fanática no bisturi", como a caracterizou Vasily Grossman.
Longe dali, no nº 634 de Les Nouvelles Littéraires, de 8 de Dezembro de 1934, François Mauriac escrevia o artigo "Le Proust Russe Attendu", uma curta peça que contém um singular, bizarro até, momento de premonição: "Je salue d'avance ce Proust inconnu qui, peut-être aujourd'hui, dans quelque ville perdue de Russie, étudie de l'intérieur cette humanité dont nous ne savons rien, sinon qu'elle souffre atrocement".
Hoje esperamos jornalistas, soundbytes, flashes, transmissões directas, estridência, comentários e chavões. Do sofrimento humano deixámos de esperar um Proust, sendo-lhe agora negada essa última dignificação simbólica. Tornámo-nos crus e impacientes.
Niilistas e cínicos, também.
ResponderEliminarQue amargura...