No outro dia ironizei em público com a misoginia do Apóstolo, que é bem conhecida e indesmentível, fruto que é de uma época remota. Hoje penitencio-me, citando uma das passagens que mais me têm feito meditar em toda a Bíblia, não apenas pela forma inspirada como ela projecta uma mensagem religiosa, religadora, por sobre as limitações terrestres da moral estóica (garantindo com isso o triunfo, a prazo, de uma nova fé por sobre a resignação carnal do paganismo), mas também pela muito misteriosa alusão com que remata (e onde por vezes julgo poder imaginar Paulo erguendo um espelho para nele rever o seu passado fariseu):
"Digo-vos um mistério: Nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num piscar de olhos, ao som da última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos serão ressuscitados incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que o que é corruptível se revista da incorruptibilidade e que o que é mortal se revista da imortalidade. Pois só quando isto que é corruptível se recobrir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, se cumprirá a palavra que está escrita: «A morte é tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?» O ferrão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei."
(1 Coríntios 15: 51-56)
Há aqui um mistério a pairar sobre estas palavras - e não somente aquele mistério que o próprio São Paulo anuncia. É arrebatador tentarmos desvendá-lo.
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