Ortografia à portuguesa


O acordo ortográfico é uma clara prova da tendência que têm os espíritos tacanhos para condicionarem a vida dos outros (um reflexo da difusa consciência que têm da exiguidade dos seus próprios horizontes, que os leva a quererem "transbordar").
Felizmente as linguagens são dos fenómenos mais populares que há, e não se resignam a decretos e a despotismos bacocos, vivem, são vivas, emergem da vontade de partilha, representação e evocação – uma vontade que está morta já quando os urubus académicos tentam capturá-la para a dissecarem e a "reordenarem".
Por mim, céptico que sou (ou será agnóstico?), podem acordar o que quiserem com a língua que não conseguem, nem conseguirão, destruir essa força.
Que esses pigmeuzinhos sonhem os seus projectos demiúrgicos - não me incomoda. Também não me motiva qualquer combate contra os pigmeuzinhos. Um dia pode ser que adira ao que prescrevem, por inércia, por erosão, por exaustão; talvez no dia em que perceber que, por capitulação generalizada, a ortografia que cultivei toda a minha vida se tornou um entrave à partilha, à representação e à evocação.

1 comentário:

  1. Uma vez mais, o acessório faz fogo de vista e oculta o mais importante: a perda de tempo com a nova ortografia camufla a terrível necessidade de desenvolvimento de capacidade de reflexão e de sentido crítico que dificultaria a vida dos "pigmeuzinhos" que se engrandecem com com as mudanças de forma.

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